Numa região onde a gastronomia atinge uma diversidade e riqueza incomparáveis, seria de esperar uma grande produção neste sector. Porém, acontece que esses saberes estavam, muitas vezes, trancados em casas particulares e na memória das famílias, as quais não os valorizavam como produtos comercializáveis numa lógica de produção artesanal e modo de vida alternativo. As poucas unidades tipicamente artesanais existentes até há cerca de 12 anos, de dimensão quase familiar, sobreviviam com elevados custos, tendo dificuldade em responder às normas legais e à procura do seu espaço no mercado.
A DOP – Presunto de Barrancos, significou a realização de um grande objetivo de natureza socioeconómica, que dotou o município de um instrumento de suporte legal e institucional, potenciando e promovendo a instalação de unidades de transformação de carnes de suíno.
1- CASA DO PORCO PRETO – BARRANCARNES
A BARRANCARNES – CASA DO PORCO PRETO, quando iniciou a laboração em Janeiro de 1991, criou 23 postos de trabalho direto. A unidade a instalar teria uma capacidade para transformar 5200 porcos/ano e fabricaria seis produtos.
Em 2001, foi adquira pelo Grupo Amorim, através da Natureza SGPS, sub-holding do grupo para a exploração de produtos naturais (Burmester, Gilbert´s e Barrancarnes), como já anteriormente referíramos.
No âmbito da estratégia de crescimento da Barrancarnes, foi inaugurado aquele que é o maior “Secadeiro” do país, no dia 15 de Novembro de 2006, na presença do Ministro da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas, Dr. Jaime Silva. O “Secadeiro” foi criado em Fevereiro de 2005, destinando-se à secagem de peças nobres, com uma capacidade para 250.000 presuntos e paletas( mãos do porco). Num investimento total de 5,2 M. O mesmo estende-se por 8500 m2 de construção, compreendendo 4 “secadeiros” naturais, 8 caves para maturação, 8 “secadeiros” com temperatura controlada, 1 loja e diversas salas para recepção de turistas.
Atualmente são parceiras do Grupo Amorim (maior acionista da Barrancarnes) as empresas espanholas Caja Duero e Julián Martín, com o objetivo de desenvolver o presunto de bolota do Porco de Raça Alentejana, para toda a Península Ibérica, mercado europeu e, num prazo médio, também para os Estados Unidos, Brasil e Japão.
A Barrancarnes, de momento conta com 38 funcionários permanentes, e 15 em regime sazonal nos meses de maior laboração (Setembro a Fevereiro). Quase 95% da mão-de-obra utilizada é especializada, com formação constante, quase sempre em Espanha, pois é lá onde podemos encontrar os verdadeiros “mestres” nesta área.
Quanto ao Matadouro, a obra inicialmente estava prevista para ser executada também em Barrancos, mas diversos motivos impediram que esta se tornasse uma realidade (Plano de Desenvolvimento Municipal e a Rede Natura que abrange quase cerca de 90% da área do Município de Barrancos). O matadouro, acabou por ser construído a cerca de 75km, em Reguengos de Monsaraz.
Atualmente conta com 75 funcionários permanentes e aproximadamente 25 em regime sazonal nos meses de maior laboração (Setembro a Fevereiro). Cerca de 85 % da mão-de-obra utilizada é especializada, e os funcionários estão em formação contínua, muitas das vezes em Salamanca, nas instalações do parceiro espanhol Julián Martín.
No ano anterior registaram uma média de 30.000 abates.
O Grupo Amorim investiu também na Herdade de Vale de Ferreiros, em Reguengos, com uma extensão de 450 hectares para a recria de leitões de raça pura alentejana. Com os dois parceiros espanhóis, detém ainda uma participação no Matadouro em Reguengos de Monsaraz.
2 - A "BOLETA BARRANQUENHA"
A BOLETA BARRANQUENHA – Transformação Artesanal de Porco Alentejano, Lda, fundada em Setembro de 1999.
Aproveitando os programas de apoio à industria, o projeto de investimento apresentado ao Estado recebeu um financiamento de cerca de 122 mil contos (42 mil contos do IFADAP e 80 mil contos do FEOGA). As instalações industriais, que ocupam uma área de 2000 m2, foram construídas na Zona Industrial de Barrancos em terrenos cedidos pela CMB, como igualmente acontecera com a Barrancarnes.
Para além dos motivos atrás indicados, a opção pela localização em Barrancos deveu-se ao facto de todos os seus sócios serem naturais e residentes na área do município. De qualquer forma, a institucionalização da DOP – Presunto de Barrancos e a perspetiva de um mercado aliciante também pesaram na decisão.
A Boleta iniciou a sua atividade em Outubro de 1999 com cinco trabalhadores salsicheiros e um distribuidor/vendedor, todos recrutados em Barrancos, de entre os primeiros classificados num curso de formação realizado para o efeito, com o apoio do IEFP.
Para a produção de 4000 Kg/mês de enchidos, designadamente de catalão, salsichão, paio, morcilha e chouriço, são abatidos cerca de 50 porcos por semana, adquiridos na área geográfica de produção DOP. Toda a produção é destinada ao mercado nacional, sendo comercializada, maioritariamente, nas grandes superfícies comerciais.
Tal como a Barrancarnes, a certificação do controlo da qualidade dos Presuntos DOP, é efetuado pela AGRICERT.
3 – HERDEIROS “LUÍS FIALHO ALCARIO”, EMPRESA ARTESANAL
Uma das indústrias "tipicamente artesanal" mais conhecidas em Barrancos, é a Herdeiros “Luís Fialho Alcario”, ou “Luís Floriu”, nome pelo qual era conhecido, o homem que se dedicou à transformação artesanal de carnes de porco alentejano durante mais de 35 anos.
Após o seu falecimento, o estabelecimento industrial foi mantido sob a responsabilidade da sua esposa, com a ajuda dos seus filhos, em especial da sua filha que praticamente é a administradora do negócio.
O estabelecimento industrial, ocupa uma área de 100 m2 no anexo à residência familiar na Rua D. Bella Pulido, em Barrancos.
Desde 1999 que se encontra devidamente licenciado pelas entidades competentes (CMB e a Direção - Regional de Agricultura do Alentejo).
Esta empresa deverá ser considerada como a única "indústria" de transformação de carnes de porco, tipicamente artesanal. As câmaras frigoríficas – apenas uma de pequena dimensão - são substituídas pelas caves de abóbadas com climatização natural, onde sempre foram curados os enchidos produzidos desde há décadas.
A empresa emprega apenas dois trabalhadores permanentes. Duas vezes na semana recorria aos serviços de quatro a cinco "especialistas na matéria" - as matanceras - que preparam as carnes e enchem os chouriços, os catalões mais famosos de Barrancos, os paios, e os restantes enchidos.
Nesta unidade industrial, não se produzem Presuntos de Barrancos DOP, contudo, os seus enchidos, provêm de carnes selecionadas, com garantia de qualidade certificada.
4 - SABORES DE BARRANCOS
A SABORES DE BARRANCOS - Transformação Artesanal de Porco Preto, LDA fundada em Novembro de 2008, é uma empresa que se dedica em exclusivo à produção, elaboração e cura produtos derivados de Porco Preto.
Situada na bela Vila de Barrancos, cujo microclima mediterrânico é característico, reune todas as condições para um produto final de uma qualidade extrema.
O ar puro e fresco assim como todas as naturais condições climatéricas são fundamentais na cura dos enchidos. Uma cura lenta e natural, contrariamente aos produtos existentes, que são curados pelo processo de fumeiro.
A qualidade dos nossos produtos provém da raça e da região onde os mesmos são concebidos e dos detalhes ao longo de todo o processo de laboração.
Contamos ainda com profissionais bem qualificados que tornam ainda maior a qualidade e o desenvolvimento dos nossos produtos.
5 - AS INDUSTRIAS FAMILIARES
São cerca de duas dezenas as pessoas que anualmente complementam o seu rendimento do trabalho por conta de outrem, com a venda de produtos como o catalão, o paio, salsichão, o chouriço e a morcilha, tudo enchidos tradicionais de Barrancos. O presunto é outro dos produtos comercializados a preços mais competitivos que e os da Barrancarnes.
Na área do município de Barrancos existem centenas de pequenas pocilgas (Explorações suinícolas familiares – cada família pode ter 4 ou 5 animais e sempre dizem que é única e exclusivo para consumo das suas famílias), que possuem em média 3 a 4 porcos. A maioria destinada a consumo próprio. A matança do porco realiza-se entre Dezembro e Fevereiro, ritual onde a família, proprietária do porco, junta vizinhos e amigos numa espécie de cerimonial de confraternização.
A Barrancarnes e a Sabores de Barrancos são hoje duas empresas em franca expansão, com uma boa implantação no mercado nacional. Estas produzem uma série de produtos regionais desde os enchidos tradicionais – salsicharia tradicional barranquenha - aos famosos Presuntos de Barrancos que, pelas suas características são muito apreciados no país e no estrangeiro, resultando disso uma procura a que as empresas nem sempre conseguem responder.